“Vamos dinamizar a Operação Crack”
Wilson Damázio secretário de Defesa Social
JOSÉ ACCIOLY
GESTOR Wilson Damázio diz que as ações visam desativar os pontos de venda de entorpecente e prender culpados
Empossado há cerca de 20 dias, o novo secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, assume a pasta prometendo dinamizar ações de combate ao tráfico de drogas. Para isso, o gestor aposta na troca de informações entre a Polícia Federal, Civil, Militar e Rodoviária Federal. Com isso, ele espera atacar a criminalidade em duas frentes, uma vez que 80% dos assassinatos estão relacionados com o comércio ilegal de drogas. “Você dinamizando o combate ao tráfico, a repercussão vai ser hiper positiva na baixa de homicídios. A ideia é não dar trégua aos homicidas, aos traficantes”, disse. Quanto a dissidências do passado, que levou a queda do ex-secretário da SDS, Damázio não quis entrar em detalhes. “Minha administração não está de olho para o retrovisor. Está de olho no horizonte, para frente”, disse.
Quais serão as principais ações que a SDS vai desenvolver para o combate ao tráfico de drogas, sobretudo a venda do crack?
Dentro de um contexto geral, vamos dinamizar a Operação Crack, que já vinha sendo desenvolvida pela SDS, visando coibir o comércio de entorpecentes na Capital, Região Metropolitana e as demais cidades do Estado. Nessa operação, têm várias ações destinadas a desativar os pontos de venda e prender os envolvidos. Paralelamente a isso, nós temos feito contatos com as polícias Federal e Rodoviária Federal, visando intercambiar informações relacionadas ao narcotráfico no Estado.
Como as polícias Federal e Rodoviária Federal podem ajudar na desarticulação do tráfico?
Dentro dos grandes trabalhos que a Polícia Federal faz, existe os médios e pequenos traficantes remanescentes. Eles são aquelas pessoas que seriam os distribuidores dos grandes traficantes que a PF prende. A Polícia Civil pode, perfeitamente, trabalhar nesses pequenos e médios, com base nas informações repassadas pela Polícia Federal. Isso é uma proposta que está sendo amadurecida com Paulo de Tarso (superintendente da PF em Pernambuco). Já com a Polícia Rodoviária Federal, vamos atacar as vias de escoamento da drogas. Estamos em fase de planejamento. Os dias que faremos isso, por questão de estratégia, nós não vamos divulgar, mas é certo que vamos intensificar esses trabalhos.
E dentro da SDS, os órgãos já foram procurados?
Todos os órgãos estão já alertados para intensificar o combate ao tráfico de drogas. O que a gente acredita é que você dinamizando o combate ao tráfico, especialmente ao crack, a repercussão vai ser hiper positiva na baixa da taxa de homicídios.
Então o tráfico de drogas e os homicídios estão relacionados?
Pelos nossos dados da área de Inteligência e da Gace (Gerência de Análise Criminal e Estatística), pelo menos 80% dos crimes que envolvem mortes, praticadas em Pernambuco, estão, diretamente, ligados ao tráfico de drogas ou presidiários ou ex-presidiários, que também parte está envolvida no comércio ilegal. No caso dos presidiários, eles são tanto traficantes como usuários.
Existe algum mapeamento da Região Metropolitana e no Estado com os principais pontos onde há o intenso tráfico de drogas?
Nós já temos mapeado esses pontos, mas estamos atualizando esses pontos. Vamos contar com o apoio dos denunciantes através do Disque-Denúncia. Não é que uma pessoa vai ligar e avisar que em determinada casa funciona um ponto de drogas e a polícia vai lá e entra. Não. Através dessas informações, vindas do Disque-Denúncia ou dos órgãos operativos, a equipe vai fazer a investigação, para saber se aquilo é um ponto de venda. Muitas vezes, as pessoas, por vingança, fazem denúncias que não são procedentes.
Então, todas as denúncias serão investigadas pela Polícia?
Em via de regra, vamos checar as informações repassadas pelo Disque-Denúncia. Mas, assim, não são nos pontos de venda de drogas que você vai encontrar 30, 50, 100 quilos. É o varejo mesmo. Por isso é importante atacar a fonte produtora em crescimento em Pernambuco, neste caso, o Polígono da Maconha (no Sertão). Ou então aquelas áreas onde houve migração do plantio, até mesmo para os Estados vizinhos. Como há uma repressão mais acentuada no polígono, muitas vezes, os traficantes, que são plantadores, migram para o Piauí, Maranhão, Ceará...
E há a possibilidade deles aproveitarem para mudar de crime?
Quando se faz uma operação de erradicação no Sertão, a tendência é aumento o número de assaltos.
Por quê?
Porque os caras perdem a droga e vão tirar o prejuízo nos assaltos nas rodovias. É muito importante que no antes, durante e depois de uma grande operação de erradicação se incremente as operações nas estradas, para dar proteção aos motoristas e prender os criminosos. Como a gente sabe que a PRF não tem um efetivo ideal, jogamos nossos policiais militares e civis para apoiarem. A Polícia Rodoviária é importante porque tem estrutura. A capilaridade dela é grande em termos de delegacias ao longo das rodovias.
Para as operações contra o tráfico, está havendo alguma mudança no perfil? Está se apostando mais no combate mais ostensivo nas ruas ou investindo mais na Inteligência para identificar os pontos?
Inteligência funciona mais nas operações pontuais, mais planejadas, aqueles traficantes médios. Agora, a asfixia dos pontos de venda é feito com o policiamento de rua. Se determinado sujeito foi pego na rua com uma pedra de crack, a gente faz a abordagem. Ele comprou aonde? Na casa do cara. Então, vamos lá na casa do vendedor, que será preso em flagrante porque acabou de vender e vender é crime, mesmo que seja uma pedra de crack.
Mas para isso, o senhor está planejando aumentar o efetivo da Polícia Militar?
Eu vou conversar primeiro com as demais secretarias. Mas a proposta é essa, que haja incremento. Mas não posso dizer que vai ser esse ano ou no próximo, mesmo porque ainda está em curso um certame. E também precisamos ver se temos dinheiro em caixa. A ideia é não dar trégua aos homicidas, aos traficantes.
Está havendo aproximação com as categorias de classes de servidores que compõem a SDS?
Desde quando assumi, levando em consideração a figura do meu próprio perfil, conciliador, a ideia é trabalhar de mãos dadas com as categorias. Porque elas representam o que de mais importante existe na SDS, que é o homem físico. Os homens e mulheres da polícia. Não adianta muito ter equipamentos, instalações boas e tecnologia se o homem não estiver satisfeito ou se eu não estiver investindo no servidor policial. Através dessas categorias, vamos manter constante diálogo nesse sentido.
Quando o senhor fala de aproximação com as categorias é porque houve, na gestão anterior, um certo distanciamento?
Eu não queria entrar nesse detalhe. Estou dizendo que estou procurando trazer as pessoas mais próximas aqui. Minha administração não está de olho para o retrovisor. Está de olho no horizonte, para frente. Sabemos que o que Romero (Menezes, primeiro secretário da SDS na atual gestão) iniciou, Servilho (Paiva, último gestor da SDS antes de Wilson Damázio) deu continuidade ao excelente trabalho na segurança pública, que, realmente, estava vivendo maus momentos. Chegaram dois homens experientes e fizeram com que esse trabalho de conciliação, melhoraram os índices... Mas, se um policial, que está na rua, fizer corpo mole e não quiser trabalhar, não adianta ter Jesus Cristo no cargo de secretário.
A saída do secretário da SDS (Servilho Paiva) e do comandante geral da PM (coronel José Lopes)anteriores foi motivada por desavença, acompanhada por quebra de hierarquia. Como anda a relação do secretário com o novo comandante da PM?
Estava com ele no dia 3 almoçando juntos. Não só com ele, mas com toda a cúpula da PM num restaurante da cidade. Fomos lá celebrar, primeiro, a receptividade que me foi dada e, segundo, os dados que conseguimos nesse segundo semestre. Abril foi o 17º mês consecutivo que o Governo conseguiu bater a meta de 12% de redução na taxa de homicídio previsto no Pacto pela Vida.
Qual será a sua receita para continuar atingindo esse número?
Cumprir tudo aquilo que é preconizado no planejamento operacional, relativo ao Pacto pela Vida, que envolve várias ações. Uma delas é a Operação Mandados, que são os delegados construindo seus inquéritos e pedindo prisões das pessoas que cometeram crimes, principalmente aqueles crimes de maior potencial ofensivo, como homicídios, tráfico de drogas, roubos qualificados. Outra é a Operação Malhas da Lei, que é um complemento da Mandados. A gente quer melhorar o índice de encarceramento das pessoas que têm mandados de prisão. É tirar de circulação os bandidos que estão soltos cometendo outros crimes.
Com todo o aparato da SDS, o senhor vê necessidade de aumento no orçamento da pasta?
Com certeza tem que haver um incremento orçamentário. Quando você coloca mais viaturas, mais policiais nas ruas, com certeza ter que haver um incremento no custeio. Por outro lado, nós temos que evoluir cada vez mais aderindo as tecnologias. Pernambuco ainda não tem um laboratório de DNA e isso é importantíssimo para ajudar nos crimes de difícil elucidação. Há crimes que ocorrem no Estado que a polícia não tem autoria. Você entra no local, mas têm vestígios ali que precisam ser analisados. Nós também estamos investindo na formação policial.
Essa formação é para as duas polícias?
Isso, tanto a Polícia Civil quanto Militar. Mas a Militar principalmente, por ser a primeira a chegar no local do crime. Muitas vezes, na ânsia de sair em diligências, mexem em muitas coisas que alteram a cena do crime, violam. A preservação do local é importante para que a perícia faça o trabalho dela. Um fio de cabelo deixado no local é importante, resto de sêmen. Qualquer outra prova material deixada no local pode ser importantíssima para que a perícia trabalhe e ajude a polícia solucionar o caso.O bairro do Recife, que concentra parte do turismo e atividades comerciais da cidade, vem se tornando um alvo dos traficantes de drogas.
Há algum esquema especial para proteção da área?
Nós temos o policiamento da Capital, com o comando do coronel Paulo Cabral, um dos homens mais operantes da Polícia Militar. Acredito muito na capacidade dele. Tenha certeza que todas as áreas, principalmente no Centro do Recife, está sendo bem assistido pela Polícia Militar. Agora o que nós temos que ver é não supervalorizar certas ocorrências. Ocorrências, infelizmente, irão acontecer. A gente está procurando levar a zero, mas é um trabalho difícil. Certas ocorrências que têm maiores repercussões trazem a falsa ideia de insegurança nas ruas. Isso não é verdade. Eu nunca vi tanta polícia, tantas viaturas nas ruas nesse Estado.
O senhor pensa em mudanças na equipe da SDS?
Quando eu assumi a SDS, e vi o trabalho que estava sendo feito, fiquei feliz, porque não preciso estar mudando a equipe toda, nada disso. Mudamos o comandante geral da PM, por razões óbvias, o governador mudou o secretário, eu assumi, mas todos aqueles que vieram da equipe de Servilho (Paiva) e quiserem continuar, vão continuar comigo. Porque era um trabalho que vinha dando certo. O que a gente vai fazer aqui agora é dar o nosso toque. Vamos pegar o nosso perfil policial, que já vinha exercendo ao longo de 32 anos de carreira, e trazer para aqui e adiante. O diálogo aqui é constante.
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