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domingo, 20 de junho de 2010

Uso do cerol é proibido por lei

Domingo, 20 de Junho de 2010 00:00


Uso do cerol é proibido por lei

Aprovada há dez anos, a lei estadual 11.931 acontece sem que haja um controle
CAROLINA ALBUQUERQUE
Dez anos após a aprovação da lei 11.931, que proíbe o uso de cerol (mistura de cola e vidro moído) em linha de empinar pipa no Estado de Pernambuco, a prática que transforma uma brincadeira de criança em crime parece acontecer sem que haja um controle efetivo. Não é difícil encontrar, principalmente em dias de sol, crianças e adolescentes fabricando o produto e aplicando sobre o cordão do papagaio para iniciar a chamada “torança” - o objetivo de cortar a linha do outro. Ao todo, oito estados brasileiros aprovaram lei similar.

A diversão é um risco em potencial aos motociclistas - eles precisam instalar hastes que cortam a linha -, aos transeuntes e aos próprios “pipeiros”, que ignoram o poder cortante do cerol quando em contato com a pele. Um estudante de 16 anos, que preferiu manter o nome em sigilo, fabrica o produto para brincar com a pipa e já teve o dedo do pé quase decepado. “Sabemos que é proibido, mas mesmo assim usamos. Tive que ir ao hospital por conta da linha que pegou no meu pé. Fico com a mão toda cortada, também”, conta.

De acordo com a Associação Brasileira de Motociclistas (Abram), os acidentes provocados por cerol aumentam em até 70% na época das férias escolares. Cabe a escola e a família, neste ponto, alertar as crianças e adolescentes para o perigo do cerol. “Segundo a lei, se um menor for pego utilizando o cerol, quem vai ser responsabilizado são os pais ou o responsável legal. Mas se houver um acidente, o caso vai para a instância criminal e ele vai ter que ir para a GPCA, e responderá ao crime correspondente no Código Penal”, explicou o diretor geral de Operações de Polícia Judiciária, Osvaldo Morais.

A lei também estabelece a aplicação de multa e a apreensão do material ao infrator. Apesar dos riscos do cerol, não há campanhas educativas no Estado. Segundo artigo 6º, a SDS é a incumbida de fiscalizar o cumprimento desta lei, ainda assim, não há projetos educativos ou operações exclusivamente voltadas para este crime. “Não é muito comum esse tipo de ocorrência. Não há registros de ocorrências envolvendo pessoas pegas com cerol ou acidentes do tipo. Isso se deve também a não informação por parte da população. É preciso fazer maior publicidade para que as pessoas não usem e se forem flagradas devem pagar a multa”, afirmou Osvaldo.

Um dos prejuízos do cerol é o contato com os fios de energia. A gerente de Saúde e Segurança da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), Eliane Nunes, afirma que um acidente elétrico envolvendo pipas pode deixar sequelas. “Queimaduras, mutilações e até causar a morte”, destaca. Levantamento do órgão registra seis acidentes causados por pipas enroscadas na rede elétrica, quatro deles com vítimas fatais, nos últimos quatro anos.

Outro estudante, de 12 anos, que também não teve o nome revelado, tem os dedos todos cortados de tanto empinar pipa com cerol, brincadeira que faz desde os sete anos. “Não tem graça sem o cerol, o bom é ‘derrubar’ a pipa do outro. Às vezes, termina enganchando nos fios e ‘torando’ eles”, comenta.


CHILENA

Ainda restrita ao Sudeste, a linha chilena, que tem a capacidade de cortar quatro vezes mais do que o cerol, vem se popularizando. A técnica, composta por quartzo moído e óxido de alumínio, também pode ser fabricada de forma caseira. Mesmo sendo difícil de encontrar no comércio pernambucano, ela pode ser comprada pela Internet e é possível achar até receita. Em algumas lojas do subúrbio do Rio de Janeiro, a linha custa, em média, entre R$ 8 a R$125. “É um perigo ainda maior. Vou procurar saber com parlamentares dos outros Estados para fazer uma atualização da lei”, afirma o deputado estadual Manoel Ferreira, autor da lei que proíbe o cerol.

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