Ciência & vida // AIDS
UFPE cria vírus artificial de HIV
Publicado em 27.05.2010, às 03h09
Do Jornal do Commercio
Num estudo similar ao que resultou na célula sintética anunciada semana passada nos Estados Unidos, pesquisadores das Universidades Federais de Pernambuco e do Rio de Janeiro (UFPE e UFRJ) conseguiram criar em laboratório um vírus artificial de HIV. O feito permitirá, informam os cientistas, o desenvolvimento de uma nova vacina terapêutica para pacientes de aids.
O vírus foi obtido por meio de clonagem, usando uma técnica chamada PCR, sigla em inglês para reação em cadeia da polimerase. “Com a PCR, cortamos e colamos pedaços do DNA até construir um genoma do vírus HIV inativado”, explica o professor do Departamento de Genética da UFPE, Sergio Crovella.
O desenvolvimento do protótipo piloto, há duas semanas, teve apoio financeiro do CDC de Atlanta. O CDC, sigla para Centers for Disease Control and Prevention, seria o equivalente, nos EUA, à Fiocruz. Foram US$ 500 mil empregados na aquisição de reagentes e pagamento de bolsas nos últimos 12 meses.
A equipe que criou o vírus sintético é a mesma que está testando a vacina terapêutica. O medicamento é feito com células dendríticas, aquelas responsáveis pela imunidade do organismo.
A segunda fase, iniciada recentemente, tem duração prevista de três anos e o objetivo de alcançar 100% de eficácia. Os testes, na UFPE, são feitos no Laboratório de Imunopatologia Keiso Asami (Lika), em parceria com a o Laboratório LIM-56, da Universidade de São Paulo (USP).
É no Lika também onde a equipe pretende instalar uma fábrica de células dendríticas, usadas também em terapias contra câncer, hepatites e doenças autoimunes.
Crovella diz que a vacina autóloga, feita a partir do sangue extraído do paciente que receberá o medicamento, é mais dispendiosa. “Gastamos US$ 3 mil só para isolar o vírus, enquanto que o custo para cada dose de vírus sintético é de US$ 100”, compara.
O geneticista explica que o paciente responde bem ao tratamento com a vacina autóloga, porque o vírus pertence a ele. “Mas há dezenas de subtipos. Num vírus sintético podemos incluir as variações genéticas dos subtipos, permitindo que a vacina seja usada num grupo amplo de HIV positivos”, justifica o professor.
Outra vantagem da vacina terapêutica feita a partir do vírus sintético é em relação ao conforto do paciente. É que, para fazer a vacina com células dendríticas, é coletado o sangue do paciente em dez seções, cada uma com o armazenamento de 15 mililitros, para o isolamento do vírus.
No próximo mês, o primeiro protótipo de vírus recombinante será testado em células dendríticas para avaliar o perfil de expressão das células e depois a estimulação com o vírus.
“Nosso objetivo final é chegar a 2011 com a fábrica de células dendríticas para terapias vacinais já pronta para funcionar na UFPE. A estratégia vacinal será baseada no uso de vírus recombinante”, adianta o pesquisador. Ele lembra que, com o vírus artificial, será possível atingir um grande número de pacientes, de várias áreas do País.
A fábrica de células dendríticas, informa Crovella, será uma referência nacional na área. “Representa o futuro dos estudos de terapias vacinais em Pernambuco”, avalia. Para o geneticista, a contribuição do vírus geneticamente produzido ajudará na produtividade de vacinas em larga escala da fábrica.
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